A Unesp, criada em 1976, resultou da aglutinação dos Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São Paulo, unidades universitárias situadas em diferentes pontos do interior paulista abrangendo diversas áreas do conhecimento e que tiveram origens diferenciadas de conformidade com os momentos de sua criação, com as aspirações de seus criadores e com os objetivos a que se prestaram cumprir. Essas escolas, que foram pioneiras na implantação do ensino superior público de qualidade no interior do Estado de São Paulo, tiveram, no entanto, uma criação desordenada, sem um planejamento prévio, o que lhes serviu posteriormente de motivo para críticas.
Constatou-se desde o início da formação desta universidade, uma heterogeneidade, em diferentes aspectos e uma dispersão espacial. Ainda que se possa lembrar que a aglutinação de áreas do conhecimento tivesse sido a forma da gênese de várias outras universidades brasileiras, que poderiam se apresentar como modelo, a Unesp, diferentemente das outras adquiriu o formato aparentemente multicampi, como uma de suas marcas mais evidentes e que lhe conferiu uma certa originalidade.
Os Institutos Isolados, enquanto escolas públicas, criadas pelo Governo do Estado de São Paulo, resultaram, de um lado, da vontade dos próprios moradores das cidades do interior que, nas décadas de 1950/1960, aspiravam proporcionar a seus filhos uma educação superior e uma formação profissional que, nas condições da época, poderiam ser realizadas apenas nos grandes centros, em locais nem sempre facilmente acessíveis a essas populações interioranas.
Ainda que houvesse um número considerável de escolas superiores no Estado de São Paulo, muitas das quais confessionais, era evidente a ausência do poder público nesse setor. Deve-se acrescentar que, na medida que o Governo do Estado havia assumido o incentivo à difusão da educação primária e secundária, promovendo a criação de inúmeras escolas desses níveis, visando atender às necessidades de uma população a espera dessas escolas, deveria proporcionar, ao mesmo tempo, profissionais com a necessária qualificação para o atendimento dessa clientela. Por outro lado, o crescimento da população estudantil, apta para o ingresso numa universidade passou a exigir do governo estadual uma atenção maior para a formação superior desses estudantes.
Essas circunstâncias acabaram chamando a atenção dos políticos locais que, em vários municípios do interior, passaram a colocar em seus programas de ação a tarefa de conseguir junto ao governo estadual a criação de escolas de nível superior que viessem atender aos apelos de seus eleitores. Dessa maneira foram criados os Institutos Isolados, na forma de Faculdades públicas ou de antigos estabelecimentos de ensino superior, mantidos por particulares ou pelo poder municipal e que passaram por um processo de estadualização, como o que ocorreu com a Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara ou com a Faculdade de Filosofia de São José do Rio Preto.
As escolas, criadas dessa forma desfrutaram de uma certa autonomia sendo representadas por seus diretores, em geral docentes de reconhecida atuação acadêmica, nomeados pelo governador. Tais professores receberam a incumbência de compor os quadros com pessoal qualificado para as atividades docentes e, para a administração, cercaram-se de pessoal experimentado na administração superior. No cumprimento daquelas determinações, os primeiros diretores encarregados de criar a infraestrutura administrativa e acadêmica tiveram que enfrentar uma série de problemas. Entre as dificuldades iniciais devem ser lembradas aquelas relacionadas com o estabelecimento de uma infraestrutura de edificações, bibliotecas, laboratórios e equipamentos nem sempre presentes nos projetos políticos de criação dessas unidades.
Entre essas escolas que vieram compor a Unesp, pode-se observar, de um lado uma certa identidade, um grupo bastante expressivo, formado por sete unidades universitárias, num conjunto de 14, ocupando amplo espaço, constituído pelas chamadas faculdades de Filosofia, voltadas preferencialmente para a formação de professores que deveriam compor os quadros das escolas secundárias do Estado. No entanto, essas escolas, pela própria formação e por uma qualificação precisa adotadas, foram marcadas por uma identidade entre a docência e a pesquisa na compreensão da necessidade da busca de um aprimoramento acadêmico. Associada a essa característica, essas escolas estiveram fundamentadas no tripé que caracteriza a instituição acadêmica – a docência, a pesquisa e a extensão numa avaliação precisa da importância social de uma unidade universitária.
Além das Faculdades de Filosofia o conjunto das unidades universitárias era constituído por faculdades que já desfrutavam de prestígio no interior do Estado como por exemplo, a Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu em cujas origens se nota um grande esforço no sentido de inovar o ensino das Ciências Médicas e Biológicas, a Faculdade de Agronomia de Jaboticabal, que iniciara uma tradição na Unesp referente aos estudos agrários e à veterinária, que passaram a ter grande evidência na época em razão das transformações nas técnicas agrárias do Estado de São Paulo ou as Odontologias, que juntamente com o ensino da Farmácia constituíam unidades das mais tradicionais na formação de profissionais no Estado de São Paulo, a Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá e a Faculdade de Odontologia de São José dos Campos marcavam a presença da Universidade no Vale do Paraíba. Uma inovação vinha ser a inclusão de uma Faculdade de Artes, que ficou localizada inicialmente em São Bernardo do Campo.
Os Institutos Isolados, assim chamados por não estarem vinculados a uma Universidade, embora sempre tivesse havido uma remota expectativa de integração à Universidade de São Paulo, no seu feitio de escolas distribuídas pelo interior do Estado, tiveram sua denominação identificada com essa distribuição o que lhe valeu críticas. Uma série de situações dificultaram um entrosamento entre essas unidades. Além da distância dos centros mais dinâmicos, a precariedade dos meios de transporte e das comunicações dificultava não só uma aproximação com os grandes centros mas também com outras instituições universitárias e com os próprios Institutos Isolados. Contribuía ainda para esse isolamento a falta de uma motivação que pudesse levar a uma integração das áreas do conhecimento que viessem despertar nessas escolas o sentimento de ação comum, o que, no entanto, não impedia seu crescimento e o reconhecimento de sua ação e de sua produção junto à comunidade acadêmica. Na medida que os Institutos Isolados começavam a adquirir corpo e uma atuação própria, suas dificuldades tornaram-se mais evidentes. Essa falta de entrosamento entre as unidades e a marca do isolamento tornaram essas unidades muito frágeis ficando dependentes das qualidades administrativas de seus diretores e na disputa das atenções das autoridades governamentais para o atendimento de suas necessidades. Daí a situação precária de muitas dessas escolas.
Estudos feitos pela Secretaria da Educação, com a finalidade de identificar tais problemas, vieram demonstrar as dificuldades em que se encontravam em matéria de infraestrutura, como edificações, de organização e manutenção de laboratórios e bibliotecas, de aquisição e manutenção de equipamentos para ensino e pesquisa além da grande dificuldade de aprimoramento do pessoal docente para a complementação de sua carreira acadêmica. Talvez houvesse uma integração maior por área do conhecimento graças a atuação das associações e entidades acadêmicas, mediante a participação em encontros científicos. As tentativas de aproximação política, para definição de situações acadêmicas encontravam resistência. Uma experiência nesse sentido havia sido feita em 1968, por ocasião dos Fóruns de Debate, durante os quais a comunidade acadêmica pode se aproximar e tentar trocar experiência de vivência acadêmica. No entanto, nos anos 70 os agentes desagregadores haviam se tornado mais atuantes.
Foram essas escolas, assim instituídas, administradas pelo Governo do Estado por intermédio de sua Secretaria da Educação que vieram a constituir uma universidade não por uma iniciativa própria. A criação da universidade resultou de uma iniciativa externa aos Institutos Isolados. Foi um ato da Secretaria da Educação para a solução de seus problemas administrativos. A Secretaria havia atingido um ponto tal de crescimento no atendimento a praticamente todo o ensino público do Estado de São Paulo chegando-se á conclusão de que suas tarefas deveriam estar restritas ao ensino primário e secundário. Assim, o ensino superior público deveria passar a ter uma outra orientação, saindo da esfera da Secretaria. A forma de se proceder a essa separação seria transformando os Institutos Isolados numa universidade.
Os Institutos Isolados tiveram desenvolvimento desigual em função das administrações próprias ou do crescimento das regiões às quais pertenciam. A medida que se constatou esse crescimento, tornando-se maiores as exigências das instituições começam a ser identificados os problemas das instituições. Os Institutos Isolados foram tema frequente da pauta do Conselho Estadual de Educação, criado em 1963. Na maneira de ver do Conselho, era uma forma provisória tolerada até que essas escolas fossem anexadas a uma universidade. Nas discussões a respeito de uma política para os Institutos Isolados começou a ser formada uma opinião favorável à aglutinação daquela instituição em várias universidades, as Universidades Regionais, conceito que era do agrado de muitas daquelas faculdades que se julgavam embriões de futuras Universidades. No caso particular da Faculdade de Medicina de Botucatu sempre houve a concepção de que se tratava de uma unidade diferenciada e que teria condições de se organizar como Universidade.
A ideia da criação de várias universidades no Estado de São Paulo não era nova. O texto constitucional de 1946 já previa a criação de várias universidades para o Estado de São Paulo. Não aceita na época, a ideia da criação de Universidades Regionais periodicamente voltou à discussão sendo tema de seminário, organizado pelo jornal O Estado de São Paulo, quando, ao criticar o “gigantismo da Unesp” convidou os representantes das várias universidades paulistas, para um estudo de divisão do Estado de São Paulo com a repartição de suas instituições universitárias em várias regiões, ficando, no entanto, sem os resultados esperados.
No Conselho Estadual de Educação a discussão a respeito da criação de Universidades Regionais deixou de ser o tema prioritário no que dizia respeito aos Institutos Isolados principalmente após os acontecimentos de 1968. A criação, em 1967, da Coordenação da Administração do Ensino Superior (CASES) integrou os Institutos Isolados que passaram, no entanto, a partir de 1969 para a administração da Coordenadoria do Ensino Superior do Estado de São Paulo (CESESP). De certa forma, a CESESP, apesar de seu feitio administrativo, veio a ser o primeiro órgão que possibilitou uma primeira aproximação entre os Institutos Isolados. Pelo fato de proporcionar periodicamente reuniões de diretores dos Institutos Isolados, a CESESP veio possibilitar o encontro de diretores e o conhecimento recíproco da realidade dessas unidades. Ainda assim, tais reuniões mantiveram seu caráter formal, próprio de um órgão técnico. Os coordenadores da CESESP apesar de serem professores, não eram procedentes dos quadros dos Institutos Isolados, eram técnicos da Secretaria da Educação. Os diretores, que eram docentes, procedentes dos quadros dos Institutos de origem, eram nomeados pela autoridade superior mas não eram considerados representantes dos Institutos na medida que não eram escolhidos pelos integrantes daquelas escolas.
É importante o conhecimento do que se passava na CESESP pois foi aí que foi discutido o processo de criação da Unesp. Essas discussões foram fundamentadas em estudos a respeito da situação dos Institutos Isolados. Foram feitos vários levantamentos a respeito da localização das escolas, área ocupada pelas construções, docentes e funcionários envolvidos, número de alunos, situação dos laboratórios, das bibliotecas e áreas de suporte da produção acadêmica. Era evidente que os Institutos Isolados tinham problemas. Para o observador externo era notória a falta de investimentos na infraestrutura. Tais investimentos ficavam na dependência da argumentação, da atuação e do prestígio do diretor diante das autoridades governamentais. Essa ação individualizada contribuía para aumentar as diferenças entre aquelas escolas tornando-as mais heterogêneas. Os estudos feitos puderam constatar parte dessa realidade, no entanto, não contaram com a participação daqueles que seriam os maiores interessados, seus integrantes docentes, funcionários e alunos, não tendo sido consultados a respeito de sua vontade, de seu interesse em integrar a nova proposta da Secretaria da Educação. Os estudos propostos pela CESESP em relação aos Institutos Isolados continham uma crítica cujo sentido, além das questões já citadas de infraestrutura, recaia de modo especial na situação das faculdades de Ciências Humanas, mais especificamente nas Faculdades de Filosofia. A CESESP propunha um aprofundamento dos estudos em todas áreas, estimulando o desenvolvimento dos pontos considerados mais frágeis, com possibilidades de ampliação, de reestruturação para a instalação dos campus universitários cuidando-se de um planejamento adequado e desenvolvimento a médio e a longo prazo.
Desde o início de 1975, as discussões a respeito da forma de organização dos Institutos ocorreram na CESESP e contaram com a colaboração dos diretores dos Institutos Isolados. O teor principal das discussões esteve numa reprogramação da CESESP. Foram apresentadas várias possibilidades, voltadas para a integração dos Institutos Isolados numa Federação ou numa Universidade. Os diretores levaram as propostas ao conhecimento das respectivas congregações. A possibilidade de vir a se constituir numa Universidade era um projeto que agradava aos integrantes dos Institutos, embora não houvesse clareza na explicitação do que se pretendia. As informações não eram completas fazendo surgir interrogações quanto ao procedimento não ficando uma margem muito segura de possibilidades . Seria preciso levar em conta antes de tudo a situação política do momento. O país vivia ainda sob o domínio do governo militar. Em São Paulo, particularmente, os acontecimentos políticos demonstravam o caráter ainda bastante rígido desse poder, em fins de 1975.
A solução proposta inicialmente aos Institutos Isolados foi a organização de uma Federação de Escolas, não propriamente uma universidade, chegando-se mesmo a elaborar um esboço de seu formato. De certa forma, a Federação já existia na prática desde que se criou a CESESP integrando a administração daquelas escolas, como unidades congregadas, submetidas a um Regimento Geral Único, com regimentos internos padronizados, obedecendo a diretrizes e normas administrativas e pedagógicas homogêneas, seria a institucionalização de uma situação já existente. Definiu-se, então, pela integração numa única universidade, o que trazia a necessidade de uma adequação das faculdades existentes, não bastando sua integração, mas organizando-as de maneira a constituir uma universidade, tanto na sua estrutura quanto em seus objetivos. O modelo que se apresentou foi de uma universidade multicampi, sem qualquer similar no país, sendo lembrado o exemplo norte-americano da Universidade do Estado da Califórnia.
A nova instituição universitária deveria estar organizada dentro de determinados princípios entre os quais o da manutenção da tríplice função universitária – ensino, pesquisa e extensão de serviços à comunidade. Deveria contar com “uma massa crítica mínima de especialistas” sendo que a forma de seleção de seu pessoal docente deveria privilegiar o regime de dedicação integral. Um dos princípios mais debatidos foi o da não duplicação de recursos para a mesma finalidade, o que significava a não duplicação de cursos numa mesma especialidade. Esse foi o item mais polêmico das novas proposições dando margem a interpretações de restrições a determinadas áreas e transferência ou mesmo fechamento de cursos.
Esboçada no interior da CESESP, com o apoio do governo do Estado, a proposta de criação da Universidade com essas características foi apresentada ao Conselho Estadual de Educação a 7 de outubro de 1975 tendo sua aprovação a 15 de outubro. O sistema contava com 1.700 docentes, 78% em regime de dedicação integral à docência e à pesquisa, 50% com titulação de doutor, contando com aproximadamente 11.000 alunos. A universidade deveria ser constituída por uma Administração Superior formada por uma Reitoria e por um Conselho Universitário. Os antigos Institutos Isolados passavam a ser unidades universitárias. A nova universidade deveria ser anexado, na forma de autarquia o Centro de Educação Tecnológica “ Paula Sousa” . O projeto previa ainda a organização de um estatuto e de um regimento. A Faculdade de Música Maestro Julião deveria se deslocar para São Bernardo.
A proposta de criação da Unesp foi apresentada à Assembleia Legislativa a 27 de outubro mediante de mensagem do governador Paulo Egydio Martins. Nas justificativas da criação, o governador explicitou a escolha do nome, Universidade Estadual Paulista, “Júlio de Mesquita Filho”, o governador considera como uma homenagem a “figura ilustre de ilustre paulista, cujas atividades, nos mais variados campos sempre foram orientadas pelo seu ascendrado amor a São Paulo e ao Brasil, sendo indiscutível mesmo a influência que exerceu para a implantação do ensino universitário em nosso Estado”. A proposta do governador parece que procurava atenuar as críticas contra a nova instituição, desenvolvidas pelo jornal em seus contundentes editoriais.
A Lei de criação da Unesp foi promulgada a 30 de janeiro de 1976 sob o número 952 sendo a Universidade uma autarquia de regime especial. Propunha implantar o Campus de Ilha Solteira onde deveria ser instalada a Reitoria. No ato de criação da Unesp foram incorporados os antigos Institutos Isolados: Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Prudente; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto; Faculdade de Farmácia e Odontologia de Araraquara; Faculdade de Odontologia de Araçatuba; Faculdade de odontologia de São José dos Campos; Faculdade de Ciências Médicas de Botucatu; Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá e Faculdade de Medicina Veterinária e Agronomia de Jaboticabal.
A incorporação do campus de Ilha Solteira foi justificada de um lado pela necessidade do Estado em aproveitar um espaço que se tornara ocioso com o término das obras da CESP naquele local, e por outro, por ser uma posição importante para a ocupação do espaço no oeste paulista. Era um prenúncio da proposta que a Unesp assumiria posteriormente, de expansão pelo Estado de São Paulo. Nessa incorporação havia ainda a justificativa da possibilidade do aproveitamento das instalações da CESP para o curso de engenharia.
A organização e funcionamento da Universidade seriam explicitados em seu Estatuto e num Regimento Geral que deveriam ser aprovados pelo Conselho Estadual de Educação e baixados por decreto do poder Executivo.
Dando início à administração da nova universidade, o Presidente do Conselho Estadual de Educação Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães, passou a responder pela Reitoria da Universidade, nos termos do parágrafo terceiro do artigo segundo das disposições transitórias da Lei que criou a Unesp. O Presidente ficou responsável pela organização do Conselho Provisório, formado inicialmente pelos diretores das Faculdades. Na reunião de 17 de fevereiro o Conselho Provisório procedeu a escolha dos nomes para compor a lista tríplice a ser apresentada ao governador para a escolha do Primeiro Reitor. Foram indicados os nomes dos professores Luiz Ferreira Martins, Francisco da Silva Borba e Ray de Paula e Silva. Luiz Ferreira Martins, escolhido pelo governador como primeiro reitor tomou posse a 10 de março de 1976, perante o governador do Estado tendo recebido o cargo por intermédio do Presidente do Conselho Estadual de Educação.
A 8 de abril, procedeu-se a indicação do Vice-reitor, recaindo a escolha no Professor Armando Octávio Ramos, da Faculdade de Ciências Médicas de Botucatu. Assim composto, o Conselho Universitário Provisório, conforme determinação superior, deveria contar ainda com uma representação discente, não havendo, no entanto uma representação docente nem de funcionários. Talvez resida nessa particularidade o teor maior da crítica que passou a ser desenvolvida pelos integrantes da comunidade universitária – seu afastamento da tarefa de construção da Universidade. Ao Conselho Universitário Provisório coube a tarefa de imprimir à nova instituição suas características básicas, enquanto autor dos estatutos e do regimento que deveria conduzir a universidade.
Ao dar início a seus trabalhos, o Conselho Provisório estabeleceu as prioridades que seriam seguidas, estando entre elas a instalação dos campi universitários e as normas gerais de funcionamento, particularmente a elaboração dos Estatutos. A disposição das unidades universitárias em seus respectivos campi deveria constar dos Estatutos. Para orientar esses trabalhos foram indicados alguns caminhos como o de se levar em conta os aspectos regionais do Estado e a presença das outras duas universidades nesses espaços. Foram lembrados os princípios que alicerçam uma universidade pública cuja diretriz fundamental estaria no ensino, na pesquisa e no atendimento à comunidade, visando atender aos problemas mais complexos da realidade brasileira em vários campos do saber. Esses princípios seriam observados na elaboração dos estatutos. Para isso, foi destacada uma Comissão do Conselho Provisório que apresentou seus trabalhos a 4 de outubro, quando entregou aos diretores o resultado desse trabalho mediante a solicitação de se proceder ao encaminhamento de sugestões. Somente nessa altura comunidade universitária tomou conhecimento dos fundamentos que iriam nortear a reestruturação da Universidade constatando-se sério problema.
Durante um ano a questão da criação de uma universidade envolvendo os Institutos Isolados fora tratada por uma cúpula administrativa sem que houvesse a oportunidade de uma colaboração mais presente da comunidade universitária. A justificativa apresentada pela administração superior foi de que a elaboração e aplicação do Estatuto viria completar o trabalho iniciado de incorporação dos Institutos Isolados numa Universidade. Para que essa transformação viesse ter validade institucional seria preciso passar por uma série de trâmites legais, para os quais o tempo preciso para sua efetivação era bastante exíguo. A questão do tempo restrito deve ser entendida de fato como uma forma de não permitir interferências, o que poderia dificultar a criação da universidade como ela estava sendo pensada. O importante seria criar o fato, os ajustes poderiam ser feitos posteriormente.
A apresentação do modelo proposto para conhecimento e estudo da comunidade universitária foi uma forma de abrir a possibilidade de uma colaboração dessa comunidade mas, a dificuldade estava na exiguidade do prazo. Como já foi dito anteriormente, uma das questões mais polêmicas contidas no projeto em estudo esteve na proposta de racionalização da universidade a partir de uma reformulação da distribuição dos cursos no atendimento da premissa de não repetir investimentos numa mesma atividade. Esse argumento significava fechamento de cursos, transferência de cursos e de pessoal. Os exemplos mais citados diziam respeito às faculdades de Educação ou às faculdades de História ou de Letras que funcionavam em vários campi e que, portanto, em nome de uma racionalização deveriam ser reordenados. O argumento não levou em consideração a formação histórica daquelas faculdades, já estruturadas em determinadas unidades universitárias, havendo uma integração entre os cursos ministrados, realização de pesquisas conjuntas e, além do mais, com uso comum de acervos bibliográficos. Havia, ainda, determinados cursos já integrados na comunidade local e que vinham contribuindo para a realização de estudos locais ou que aproveitavam recursos locais para suas pesquisas. Os critérios técnico-burocráticos utilizados não levaram em conta a vivência nas unidades universitárias sendo traduzidas apenas como reivindicações pessoais, aliás, existentes e justas.
A disparidade entre a proposta apresentada pelo Conselho Provisório e a expectativa de muitas faculdades provocou uma série de desajustes nos momentos iniciais da criação da Universidade. A crítica recaía sobre a apresentação de uma proposta excessivamente burocratizada, com pouca margem de colaboração por parte das unidades universitárias, além da postura inflexível assumida pelos seus dirigentes que, ao visitar os campi nem sempre foram recebidos de forma cordial e, na maior parte das vezes, foram recebidos com protestos, principalmente nas unidades que se sentiam mais atingidas pelas reformas. Nas unidades de Presidente Prudente, Assis, Marília, Botucatu, São José do Rio Preto, Rio Claro, Araraquara, Franca, houve manifestações de descontentamento. De início o descontentamento estava restrito aos integrantes daquelas faculdades. Aos poucos essas questões foram tomando um alcance maior transformando-se em reivindicações locais pela permanência de determinados cursos. Além disso estabeleceu-se uma intranquilidade em razão de notícias, não bem explicitadas a propósito de fechamento de cursos, o que significava uma diminuição das possibilidades de acesso ao ensino superior público por parte dos estudantes na expectativa da realização de seus vestibulares.
Esses protestos muitas vezes foram engrossados pelas autoridades responsáveis pelo poder político local, que vieram em socorro das unidades mais atingidas. A imprensa também foi um importante fórum nos debates a respeito da criação da nova universidade.
A proposta de integração dos Institutos Isolados e de reformulação dos cursos, na realidade significava o fechamento dos cursos, portanto uma dimuição da responsabilidade do Estado na distribuição do ensino Superior. Vista como proposta autoritária, que atingiu a integridade das unidades universitárias, contribuiu, por outro lado, para criar uma motivação de aproximação, de integração para a busca de apoio para uma causa comum entre aqueles que se sentiam preteridos. Aquelas faculdades antes isoladas passaram a procurar se integrar para melhor se conhecerem e para que pudessem oferecer alternativas para o que ocorria naquele momento. Para que pudessem se fazer ouvir, levar suas aspirações aos superiores, seria preciso que a comunidade universitária tivesse um mínimo de organização coletiva. Dessa forma começam a surgir as aproximações para a formação de uma associação, primeiramente de docentes e, posteriormente, de funcionários. A integração de estudantes em entidades na busca de seus direitos já tinha uma história anterior a esse período e vai encontrar nesse momento uma razão a mais para aproximar os estudantes de todas as faculdades da Unesp bem como de outras universidades. A Associação de Docentes, Adunesp, criada em junho de 1976, passou a ser uma voz comum, dotada de representatividade pois resultou da escolha de seus representados e iniciou uma luta para fazer presente uma situação que tinha permanecido oculta. Desde então a Adunesp passou a acompanhar a movimentação pela aprovação dos estatutos. Os resultados dessas manifestações não foram imediatos. Levou-se ainda algum tempo para que a vontade da comunidade pudesse ser apresentada e ouvida de forma efetiva.
Aprovados os estatutos no Conselho Universitário Provisório seguiu-se o encaminhamento do documento legal para apreciação do Conselho Estadual de Educação. No Conselho os estatutos tiveram sua aprovação a 22 de dezembro sendo levados ao conhecimento do plenário a 29 para serem, em seguida, sancionados pelo governador. Como resultado foram extintos 10 cursos e criados outros, 2 foram remanejados.
A nova universidade havia sido criada na forma de uma entidade construída a partir da administração superior, excessivamente centralizada e autoritária, própria de seu tempo e arcando com sérias dificuldades resultantes dos agentes desagregadores então existentes. Mas essa criação, apesar das críticas, trazia um produto que no momento não tinha condições de ser apreciado, na forma como foi apresentado à comunidade universitária. Certamente, deveria estar na ordem das aspirações de docentes, funcionários e estudantes dos antigos Institutos Isolados vir a ser parte de uma universidade e principalmente ver sua instituição ser contemplada com tal instituto. A forma desconcertante como se presenteou a comunidade universitária com esse tão esperado bem, contrariando quaisquer perspectivas de ação representativa foi no entanto um grande desafio a que seus integrantes souberam responder no decorrer do tempo.
A decretação da anistia, a extinção do AI-5, do 477, foram ações que vieram amenizar a luta por uma universidade mais livre. As campanhas políticas dos inícios dos anos 1980, trouxeram seu incentivo e sua colaboração para ações mais democráticas. Embora num tempo não tão imediato como queriam seus primeiros organizadores mas suficiente para demonstrar seu interesse e sua capacidade de criar uma instituição, fundamentada em suas tradições, vencendo os desafios de seu tempo, para oferecer um ensino de qualidade proporcionar o aprofundamento da pesquisa estendendo-a a um espaço considerável dentro do Estado de São Paulo. Por outro lado, seus integrantes têm procurado demonstrar a possibilidade de uma construção, pelos seus próprios agentes, a partir de uma vivência democrática, numa instituição de estrutura flexível, desburocratizada. Talvez o sonho não tenha se completado ainda dessa forma mas o epílogo de sua construção está posto nas mãos de seus próprios integrantes para a criação de uma universidade verdadeiramente democrática.
Viva a Universidade Estadual Paulista!
Fonte: http://www.unesp.br/portal#!/unesp-40-anos